Teoria Evolucionária do Comportamento do Consumidor: Por que Preferências Mudam
Richard Nelson e Davide Consoli propõem alternativa à teoria neoclássica do consumidor. O modelo reconhece racionalidade limitada, formação social de preferências e processos de aprendizagem. Framework para compreender por que preferências mudam e como inovações são adotadas.
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Tempo de leitura: 14 minutos | Atualizado em: Dezembro 2025 | Categoria: Estratégia e Inovação
Resumo Executivo
Richard Nelson e Davide Consoli (2010) propõem alternativa à teoria neoclássica do comportamento do consumidor. O modelo reconhece racionalidade limitada, formação social de preferências e processos de aprendizagem associados ao consumo. Para profissionais de marketing, o framework explica fenômenos que a teoria convencional não captura: por que consumidores mudam preferências, como novos produtos são adotados e qual o papel de "usuários de chumbo" na difusão de inovações.
Questões centrais:
- Por que a teoria neoclássica é insuficiente para explicar comportamento de consumo?
- Como necessidades e crenças são formadas socialmente?
- Qual o processo de adoção de novos produtos e serviços?
Para profissionais de marketing digital, gestores de e-commerce, SaaS e consultoria, apresentamos framework teórico para compreender dinâmicas de mudança de preferências e adoção de novos produtos.
Palavras-chave: comportamento do consumidor, teoria evolucionária, racionalidade limitada, formação de preferências, usuários de chumbo, difusão de inovações, Nelson e Consoli.
Sumário
- Limitações da Teoria Neoclássica
- Fundamentos da Teoria Comportamental Evolutiva
- Formação de Necessidades e Crenças
- Resposta a Mudanças de Renda
- Novos Bens e Serviços
- Usuários de Chumbo e Difusão
- Destruição Criativa no Consumo
- Implicações para Estratégia de Marketing
- Conexão com Custos de Transação
- Conexão com Economia Evolucionária
- Considerações Finais
1. Limitações da Teoria Neoclássica
1.1 Premissas do Modelo Convencional
A teoria neoclássica do consumidor, desenvolvida a partir dos trabalhos de Jevons, Menger e Walras no século XIX, opera sob premissas específicas que permitem modelagem matemática elegante. Essas premissas produzem curvas de demanda bem-comportadas e previsões sobre resposta a variações de preço e renda.
Tabela 1: Premissas da Teoria Neoclássica do Consumidor
| Premissa | Descrição | Implicação |
|---|---|---|
| Função de utilidade definida | Consumidor sabe exatamente o que prefere | Preferências são dados de entrada |
| Preferências estáveis | Preferências não mudam ao longo do tempo | Demanda é previsível |
| Transitividade | Se A > B e B > C, então A > C | Ordenamento consistente |
| Maximização | Consumidor escolhe opção que maximiza utilidade | Escolha é ótima |
| Informação completa | Consumidor conhece todas as alternativas | Avaliação global possível |
Fonte: Elaboração própria a partir de Nelson e Consoli (2010).
1.2 Problemas Empíricos do Modelo
Nelson e Consoli (2010) identificam fenômenos sistemáticos que o modelo convencional não consegue explicar adequadamente. Esses fenômenos não são exceções ou anomalias, mas características estruturais do comportamento de consumo em economias reais.
Inovação contínua. Produtos e serviços disponíveis mudam constantemente. A teoria neoclássica trata inovação como choque exógeno, não como característica estrutural da economia. Consumidores operam em ambiente onde o conjunto de alternativas disponíveis se transforma continuamente.
Aprendizagem. Consumidores aprendem a usar novos produtos. Preferências se formam através de experiência, não existem a priori. O processo de aprendizagem consome tempo, recursos cognitivos e pode falhar.
Inconsistência. Avaliações de satisfação frequentemente são inconsistentes. Consumidor pode preferir A a B em um contexto e B a A em outro. A violação da transitividade é empiricamente documentada.
Influência social. Preferências são moldadas por cultura, família e grupo social. Não são atributos individuais isolados que emergem de forma autônoma.
1.3 Necessidade de Alternativa Teórica
"É necessário uma teoria que aborde sobre as mudanças contínuas nos produtos e serviços disponíveis aos consumidores." (Nelson; Consoli, 2010, p. 666)
A economia evolucionária, que desenvolveu teoria robusta sobre comportamento de firmas através do trabalho seminal de Nelson e Winter (1982), carecia de equivalente para o lado da demanda. O artigo de Nelson e Consoli (2010) preenche essa lacuna teórica, oferecendo framework que incorpora racionalidade limitada, formação social de preferências e processos de aprendizagem.
2. Fundamentos da Teoria Comportamental Evolutiva
2.1 Satisfação em Substituição à Maximização
O modelo evolucionário substitui o conceito de maximização de utilidade por busca de satisfação, seguindo a tradição de Herbert Simon (1955). Consumidores não calculam utilidade de todas as alternativas disponíveis. Comparam opções acessíveis e escolhem aquela que satisfaz necessidades dentro de parâmetros aceitáveis.
Tabela 2: Comparação entre Teoria Neoclássica e Teoria Evolucionária do Consumidor
| Dimensão | Teoria Neoclássica | Teoria Evolucionária |
|---|---|---|
| Objetivo | Maximiza utilidade | Busca satisfação |
| Preferências | Função bem definida | Sem função coerente necessária |
| Comparação | Global (todas as alternativas) | Local (alternativas acessíveis) |
| Resultado | Escolha ótima | Escolha satisfatória |
| Informação | Completa | Limitada e heterogênea |
| Aprendizagem | Não incorporada | Central ao modelo |
Fonte: Elaboração própria a partir de Simon (1955) e Nelson e Consoli (2010).
2.2 O Conceito de Racionalidade Limitada
O conceito de racionalidade limitada, introduzido por Herbert Simon em 1955 e que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia em 1978, é central para a teoria evolucionária do consumidor. Simon demonstrou que agentes econômicos operam sob restrições cognitivas fundamentais.
Racionalidade Limitada: Quatro Restrições Fundamentais
Processamento de informação é limitado
Alternativas desconhecidas não são consideradas
Decisões precisam ser tomadas sob pressão
Contexto afeta preferências expressas
Implicação: Consumidores utilizam heurísticas, regras práticas e atalhos cognitivos. Comportamento observado reflete essas limitações, não falha de racionalidade.
2.3 Base de Conhecimento como Variável
Nelson e Consoli (2010) propõem que consumidores satisfazem necessidades "de acordo com base no que sabem/acreditam". Esta formulação tem implicações substantivas para compreensão do comportamento de consumo.
Conhecimento é heterogêneo. Diferentes consumidores possuem diferentes bases de conhecimento sobre produtos e categorias. Um especialista em tecnologia avalia smartphones de forma diferente de um usuário casual.
Conhecimento é construído. Não é dado a priori. Forma-se através de experiência, informação e influência social ao longo do tempo.
Conhecimento é limitante. Consumidor não considera alternativas que desconhece, independente de sua adequação objetiva. O conjunto de consideração é subconjunto do conjunto de alternativas disponíveis.
3. Formação de Necessidades e Crenças
3.1 Duas Categorias de Necessidades
Nelson e Consoli distinguem duas categorias fundamentais de necessidades que orientam comportamento de consumo:
Necessidades Básicas/Biológicas
Alimentação, abrigo, segurança, saúde.
Relativamente universais, embora formas de satisfação variem culturalmente.
Necessidades Criadas pela Sociedade
Status, pertencimento, autoexpressão, reconhecimento.
Dependem do contexto social e cultural. São construídas, não descobertas.
A segunda categoria é particularmente relevante para marketing estratégico. Necessidades não-biológicas são construídas socialmente. O ambiente social define quais necessidades são legítimas e quais formas de satisfação são adequadas em cada contexto.
3.2 Fontes de Formação de Crenças
As crenças que orientam decisões de consumo são formadas por múltiplas fontes que interagem ao longo do tempo. Nelson e Consoli (2010) identificam quatro fontes principais.
Tabela 3: Fontes de Formação de Crenças do Consumidor
| Fonte | Mecanismo | Exemplo | Aplicação em Marketing |
|---|---|---|---|
| Sociedade | Normas compartilhadas | "Carro é necessário para adulto" | Posicionamento cultural |
| Ambiente familiar | Transmissão intergeracional | Preferências alimentares | Marketing intergeracional |
| Cultura | Valores coletivos | Significado de marcas | Branding com valores |
| Experiências | Aprendizagem individual | Preferência por qualidade após experiência negativa | Trial, demonstrações, cases |
Fonte: Elaboração própria a partir de Nelson e Consoli (2010).
Para marketing, a implicação é que crenças do consumidor são acessíveis através de pesquisa qualitativa e observação. Não são caixa preta inacessível.
3.3 Heterogeneidade como Resultado
Fontes distintas de formação de crenças produzem heterogeneidade sistemática entre consumidores:
"Existem alternativas que existem para satisfazer necessidades [...] há diferenças sociais e culturais que influenciam nas escolhas." (Nelson; Consoli, 2010, p. 672)
Consumidores com backgrounds diferentes desenvolvem crenças diferentes sobre quais produtos satisfazem quais necessidades. Segmentação de mercado reflete essa heterogeneidade real, não é construção artificial imposta sobre massa homogênea.
4. Resposta a Mudanças de Renda
4.1 Além do "Consumir Mais"
A teoria neoclássica prevê que aumento de renda leva a maior consumo das mesmas categorias. Nelson e Consoli (2010) adicionam nuance substantiva a essa previsão:
"Em vez de obter mais a família pode preferir a melhor qualidade do bem." (Nelson; Consoli, 2010, p. 674)
Aumento de renda pode manifestar-se de múltiplas formas, não apenas como aumento de quantidade:
Quatro Manifestações do Aumento de Renda
Consumir mais do que já consome
Upgrade na mesma categoria
Acessar categorias antes inacessíveis
Mix das três anteriores
A escolha depende de quais necessidades estão insatisfeitas e quais crenças o consumidor possui sobre formas de satisfação.
4.2 A Restrição de Tempo
Ponto frequentemente ignorado em análises convencionais: aumento de renda pode vir de mais tempo trabalhando. Isso cria trade-off entre renda e tempo disponível:
"Um problema associado ao aumento de renda é se a família terá tempo suficiente, dado que o aumento pode se dar por mais tempo trabalhando." (Nelson; Consoli, 2010, p. 675)
Nelson e Consoli identificam duas soluções típicas: cortar tempo em atividades básicas para liberar tempo para novas atividades, ou mecanizar atividades para poupar tempo.
Implicação para marketing: Produtos que economizam tempo possuem proposta de valor específica para segmentos com alta renda e baixo tempo disponível. A economia de tempo é benefício central, não secundário.
4.3 Aprendizagem Associada ao Consumo
Novos padrões de consumo exigem aprendizagem. A compra é apenas parte da transação:
"Além de obter novos produtos que antes não podiam, as famílias tem que saber como obter este produto, para ser mais eficaz." (Nelson; Consoli, 2010, p. 676)
Uso eficaz requer conhecimento que o consumidor pode não possuir. Isso cria oportunidade para conteúdo educativo e suporte pós-venda como componentes da proposta de valor.
5. Novos Bens e Serviços
5.1 Inovação como Característica Estrutural
O ponto de partida evolucionário difere fundamentalmente da perspectiva neoclássica:
"O principal motor de crescimento econômico é a inovação." (Nelson; Consoli, 2010, p. 677)
Inovação não é exceção ou choque exógeno. É característica estrutural de economias capitalistas. Consumidores operam em ambiente onde produtos e serviços disponíveis mudam continuamente. Teoria do consumidor deve incorporar essa dinâmica como elemento central.
5.2 Oportunidades e Desafios Simultâneos
Novos produtos criam simultaneamente oportunidades e desafios para consumidores:
Oportunidades
- Satisfação de necessidades antes não atendidas
- Formas superiores de satisfazer necessidades existentes
- Novos estilos de vida possíveis
Desafios
- Necessidade de aprendizagem
- Incerteza sobre adequação
- Custo de mudança de rotinas
"Novos produtos e serviços atendem anseios das famílias que não podiam ser atendidos antes, muda o estilo de vida." (Nelson; Consoli, 2010, p. 678)
5.3 Processo de Aprendizagem na Adoção
A teoria neoclássica ignora que adoção de novos produtos envolve processo de aprendizagem com duração, custo e risco de falha:
"Devido aos novos produtos e serviços, há um processo de aprendizagem e de adequação, que a teoria neoclássica não levou em conta." (Nelson; Consoli, 2010, p. 679)
O processo de aprendizagem consome recursos cognitivos, exige tempo e pode falhar. Consumidor pode adquirir produto e não conseguir utilizá-lo adequadamente. A implicação é direta: redução de custos de aprendizagem é componente de proposta de valor, não apenas característica secundária do produto.
6. Usuários de Chumbo e Difusão de Inovações
6.1 O Conceito de Usuários de Chumbo
Nelson e Consoli (2010) identificam categoria específica de consumidores com papel central na difusão de inovações:
"Há nesse processo inovador, os chamados 'usuários de chumbo', estes inovam, pois experimentam primeiro, além disto servem como disseminador de informação dos novos produtos e serviços." (Nelson; Consoli, 2010, p. 680)
O termo corresponde a "lead users" na literatura de inovação, conceito desenvolvido por Eric von Hippel (1988). São consumidores que experimentam produtos antes da maioria, desenvolvem conhecimento sobre uso e disseminam informação para outros consumidores.
Usuários de Chumbo (Lead Users)
Consumidores que ocupam posição à frente do mercado em duas dimensões: enfrentam necessidades que se tornarão gerais meses ou anos antes do mercado de massa, e espera-se que se beneficiem significativamente de soluções para essas necessidades.
Função sistêmica: Reduzem incerteza para categorias subsequentes de consumidores através de experimentação, validação e disseminação de conhecimento.
6.2 Funções no Sistema de Difusão
Tabela 4: Funções dos Usuários de Chumbo na Difusão de Inovações
| Função | Descrição | Valor para o Sistema |
|---|---|---|
| Experimentação | Testam produtos em condições reais de uso | Geram dados sobre performance real |
| Validação | Confirmam ou refutam promessas do fabricante | Credibilidade independente |
| Adaptação | Descobrem usos não previstos pelo fabricante | Ampliam proposta de valor |
| Disseminação | Transmitem conhecimento para outros consumidores | Aceleram difusão |
Fonte: Elaboração própria a partir de Nelson e Consoli (2010) e von Hippel (1988).
Para marketing estratégico, identificar e engajar usuários de chumbo é mecanismo de difusão. Sua validação possui credibilidade que comunicação institucional da empresa não possui.
6.3 Conexão com Categorias de Rogers
O conceito de usuários de chumbo conecta-se à categorização de adotantes desenvolvida por Everett Rogers (2003) em seu trabalho sobre difusão de inovações:
Categorias de Adotantes segundo Rogers (2003)
Usuários de chumbo correspondem aproximadamente às duas primeiras categorias (16% do mercado). Sua função é reduzir incerteza para categorias subsequentes.
7. Destruição Criativa no Consumo
7.1 Desaparecimento de Bens Antigos
O processo schumpeteriano de destruição criativa aplica-se também ao lado da demanda:
"O processo de desenvolvimento econômico, não só introduz novos bens, mas também faz desaparecer bens antigos." (Nelson; Consoli, 2010, p. 681)
Novos produtos não apenas adicionam-se ao conjunto disponível. Substituem e eliminam produtos anteriores. Consumidores são forçados a adaptar-se, independente de preferência pelo status quo.
7.2 Diferenças Geracionais na Adaptação
A adaptação a novos produtos não é uniforme entre grupos etários:
"Há a discussão de que, quem inova, usa e se adequa mais fácil as inovações nos bens é a nova geração." (Nelson; Consoli, 2010, p. 682)
Tabela 5: Diferenças Geracionais na Adoção de Inovações
| Característica | Gerações Mais Jovens | Gerações Mais Velhas |
|---|---|---|
| Rotinas estabelecidas | Poucas ou nenhuma com produtos antigos | Muitas, consolidadas ao longo de anos |
| Custos de aprendizagem | Menores | Maiores |
| Custos de mudança | Baixos (pouco a abandonar) | Altos (investimento em aprendizagem anterior) |
| Implicação estratégica | Acesso prioritário, comunidade | Simplicidade, suporte intensivo |
Implicação para estratégia: abordagens de adoção diferem por coorte geracional. Não existe estratégia única de lançamento.
8. Implicações para Estratégia de Marketing
8.1 Participação na Formação de Preferências
Se preferências são formadas socialmente (não dadas a priori), marketing pode participar legitimamente desse processo:
Tabela 6: Mecanismos de Marketing para Formação de Preferências
| Fonte de Crença | Mecanismo de Marketing | Aplicação Prática |
|---|---|---|
| Sociedade | Posicionamento cultural | Associação a valores sociais relevantes |
| Ambiente familiar | Marketing intergeracional | Comunicação que atravessa gerações |
| Cultura | Branding com valores | Propósito de marca alinhado a cultura |
| Experiências | Trial, demonstrações, cases | Facilitação de experimentação |
O objetivo não é manipular, mas participar legitimamente do processo pelo qual consumidores formam crenças sobre quais produtos satisfazem quais necessidades.
8.2 Redução de Custos de Aprendizagem
Se adoção envolve aprendizagem, reduzir custos de aprendizagem é componente central da proposta de valor:
Mecanismos de Redução de Custos de Aprendizagem
- Conteúdo educativo: Tutoriais, guias, vídeos explicativos
- Suporte ao cliente: Atendimento que resolve dúvidas de uso
- Design intuitivo: Interface que minimiza curva de aprendizagem
- Comunidades de usuários: Aprendizagem peer-to-peer
- Onboarding estruturado: Sequência de introdução ao produto
Investimento em redução de custos de aprendizagem pode ser mais eficaz que investimento em aquisição.
8.3 Estratégia de Engajamento de Usuários de Chumbo
Estratégia de difusão através de usuários de chumbo envolve cinco etapas:
Cinco Etapas de Engajamento de Lead Users
8.4 Segmentação por Coorte de Adoção
Diferenças geracionais e de propensão à adoção implicam segmentação específica:
Tabela 7: Segmentação por Coorte de Adoção
| Coorte | Característica | Abordagem Recomendada |
|---|---|---|
| Early adopters | Baixo custo de mudança, alta tolerância a imperfeições | Acesso prioritário, comunidade exclusiva, feedback loop |
| Maioria | Custo médio, exige validação social | Prova social, redução de risco percebido, garantias |
| Tardios | Alto custo de mudança, resistência a novidade | Simplicidade extrema, suporte intensivo, migração assistida |
9. Conexão com Custos de Transação
9.1 Custos de Aprendizagem como Custos de Transação
O processo de aprendizagem descrito por Nelson e Consoli (2010) pode ser analisado através do framework de custos de transação (Williamson, 1985):
- Custo de busca: Identificar produto adequado entre alternativas
- Custo de avaliação: Comparar alternativas com informação limitada
- Custo de aprendizagem: Dominar uso eficaz do produto
- Custo de mudança: Abandonar produto anterior e rotinas estabelecidas
Esses custos são reais, consomem recursos e afetam decisões. Consumidor pode preferir alternativa inferior se custos de mudança para alternativa superior forem elevados.
9.2 Marketing como Redutor de Custos de Transação
Tabela 8: Marketing Estratégico como Redutor de Custos de Transação
| Custo de Transação | Mecanismo de Redução | Aplicação |
|---|---|---|
| Busca | Posicionamento em canais adequados | SEO, presença onde público busca |
| Avaliação | Comunicação clara de proposta | Branding, mensagem consistente |
| Aprendizagem | Conteúdo educativo, suporte | Content marketing, onboarding |
| Mudança | Facilitação de migração, garantias | Programas de transição, trials |
10. Conexão com Economia Evolucionária
10.1 Crenças como Regras Genéricas
As crenças e heurísticas descritas por Nelson e Consoli (2010) correspondem a "regras genéricas" no framework de Dopfer e Potts (2008), analisado em artigo anterior desta série:
Ciclo Evolucionário das Crenças de Consumo
Nova crença sobre produto/necessidade
Crença testada através de experiência
Crença bem-sucedida se estabiliza
Usuários de chumbo são agentes de surgimento. Sua experimentação gera variação que será selecionada pelo mercado.
10.2 Co-evolução Oferta-Demanda
O modelo de Nelson e Consoli (2010) permite analisar co-evolução entre oferta (firmas) e demanda (consumidores). Firmas inovam produtos, consumidores aprendem e adaptam, feedback influencia próxima geração de produtos. O processo é contínuo e não converge para equilíbrio estático.
11. Considerações Finais
A teoria evolucionária do comportamento do consumidor oferece framework que captura fenômenos sistematicamente ignorados pela abordagem neoclássica: formação de preferências, processos de aprendizagem, papel de usuários de chumbo, destruição criativa no consumo.
Implicações para Profissionais de Marketing
- Preferências são construídas: Participar do processo de formação de crenças é função legítima do marketing, não manipulação
- Aprendizagem é custo: Reduzir custos de aprendizagem é componente central de proposta de valor
- Usuários de chumbo são ativos: Identificar e engajar early adopters acelera difusão de inovações
- Gerações diferem: Estratégias de adoção devem considerar custos de mudança específicos por coorte
O framework complementa a análise de regras genéricas (Dopfer; Potts, 2008), custos de transação (Williamson, 1985) e estrutura industrial (Guimarães, 1982), completando base teórica para compreensão do comportamento de consumo em mercados dinâmicos.
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Este artigo integra a série sobre fundamentos teóricos da abordagem de marketing baseado em evidências da Agência Integrare. Artigos relacionados: Economia Evolucionária e Marketing | Fragmentação Institucional e Custos de Coordenação | Estrutura Industrial e Competição.
Referências
DOPFER, K.; POTTS, J. The General Theory of Economic Evolution. London: Routledge, 2008.
NELSON, R. R.; CONSOLI, D. An evolutionary theory of household consumption behavior. Journal of Evolutionary Economics, v. 20, n. 5, p. 665-687, 2010.
NELSON, R. R.; WINTER, S. G. An Evolutionary Theory of Economic Change. Cambridge: Harvard University Press, 1982.
ROGERS, E. M. Diffusion of Innovations. 5. ed. New York: Free Press, 2003.
SIMON, H. A. A behavioral model of rational choice. The Quarterly Journal of Economics, v. 69, n. 1, p. 99-118, 1955.
VON HIPPEL, E. The Sources of Innovation. New York: Oxford University Press, 1988.
WILLIAMSON, O. E. The Economic Institutions of Capitalism. New York: Free Press, 1985.
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